domingo, 24 de abril de 2011
Malária. Ciência a caminho de erradicar a doença.
Hoje assinala-se o Dia Mundial da Malária. Cientistas descobrem solução para transformar em realidade os mosquitos à prova de malária.
Menos de um ano depois de terem sido anunciados, os mosquitos à prova de malária poderão ultrapassar mesmo a barreira da ficção científica. Investigadores do Imperial College London e da Universidade de Washington anunciaram na última edição da revista "Nature" uma solução para que os mosquitos manipulados geneticamente para não transmitirem malária se sobreponham na natureza aos originais Anopheles.
Os mosquitos transgénicos pressupõem a aquisição de alterações genéticas que os impeçam de ser portadores do parasita da malária, o Plasmodium, e infectarem humanos através das picadas das fêmeas. Conseguida esta tarefa - em Julho do ano passado investigadores do Arizona anunciaram os primeiros Anopheles stephensi transgénicos - um dos desafios teóricos era como fazer com que o organismo modificado tivesse vantagem sobre as populações naturais.
A resposta da nova investigação passa pelos chamados HEG, genes egoístas, explicou ao i Maria Mota, especialista em malária do Instituto de Medicina Molecular, em Lisboa. "Estes genes, também chamados genes parasitas, podem-se propagar através das populações devido à sua herança tendenciosa."
Até aqui, a ideia não tinha sido posta em cima da mesa porque não se sabia se estes genes - que não existem nos organismos multicelulares - podiam ser integrados no seu ADN e manter a capacidade de sabotar o rumo natural da evolução. "Agora, e em teoria, um gene fortemente ligado a tal unidade genética pode fixar-se numa população em poucas gerações e assim modificar a herança genética da população beneficiária, por exemplo com o objectivo de torná-lo refractário à transmissão de malária por interferência no de-senvolvimento do parasita", adianta a investigadora.
Outra hipótese será conceber genes parasitas que consigam perturbar genes específicos do genoma do mosquito, por exemplo os que são importantes para a transmissão da malária, para a sua longevidade ou fertilidade. "Sem dúvida parece ser um sistema muito poderoso", resume Maria Mota.
Na data em que se assinala o Dia Mundial da Malária, juntam-se a esta boa notícia outros dois trabalhos científicos. Um estudo publicado na última edição da revista "PLoS Genetics", sobre um dos problemas emergentes para os investigadores que tentam encontrar novos meios para combater a doença que mata ainda um milhão de pessoas todos os anos, foca-se na crescente resistência aos tratamentos.
Investigadores da Universidade de Harvard conseguiram identificar onze genes que poderão estar por trás da crescente resistência do Plasmodium aos antimaláricos, dez deles desconhecidos até aqui. "Quando percebermos os processos usados pelo parasita para evitar os tratamentos, os cientistas podem desenvolver novos medicamentos que contornem as estratégias dos parasitas resistentes", explicou Sarah Volkman, uma das autoras do trabalho.
O terceiro estudo, publicado na edição online da revista "Lancet", sugere que poderá haver uma forma eficaz de conseguir uma imunização contra a malária se o doente for exposto à malária enquanto faz a profilaxia da doença. Descobriram que esta técnica, que ainda tem bastantes limitações, permite uma protecção durante dois anos e meio, melhor do que a imunização natural após uma infecção. Seria uma ajuda nos países onde a doença é endémica e há doentes infectados várias vezes ao ano, uma vez que a primeira vacina só deverá estar disponível em 2015.
No dossiê especial preparado para o Dia Mundial da Malária, a Organização Mundial da Saúde destaca o sucesso das medidas de contenção da doença e a necessidade de manter os compromissos económicos e políticos nesta área. Nos últimos cinco anos, 11 países africanos conseguiram diminuir o número de casos e de mortes para metade.
Ainda assim, as perdas continuam a ser grandes: "A doença perpetua um ciclo vicioso de pobreza no mundo em desenvolvimento e os custos da doença e a mortalidade associada à malária representam para a economia africana cerca de 12 mil milhões de dólares por ano", sublinha a OMS em comunicado. Melhorar o tratamento dos casos infantis mais severos, encontrar abordagens mais seguras para grávidas e combater a resistência à artemisina, o principal antimalárico, são consideradas as prioridades.
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